Impeachment de Trump prejudica início do governo de Biden
Donald Trump entra para a história dos EUA por diversos motivos ao longo de seus quatro anos na Casa Branca. O presidente saiu de acordos internacionais importantes, intensificou a divisão ideológica no país, viu sua base fiel de apoiadores invadir o Capitólio e é o primeiro a sofrer dois processos de impeachment.
Na quarta-feira (13), a Câmara dos EUA aprovou o impeachment do presidente por “incitar uma insurreição” depois do episódio da semana passada. A menos de uma semana para o fim do mandato, o processo contra Trump no Senado continuará mesmo depois da posse de Biden.
Caso aprovado, o presidente não poderá voltar a concorrer a cargos públicos, incluindo as eleições presidenciais de 2024, e perderia seus privilégios como ex-presidente dos EUA.
“O processo diz expressamente que ele não deve continuar em cargos públicos por ser uma ameaça à democracia dos EUA”, diz o professor de Relações Internacionais da USP, Felipe Loureiro.
Desde a invasão ao Capitólio, Trump vem perdendo espaço nas redes sociais para discursar e se explicar, como fez em todos os anos de governo. O Twitter, sua rede favorita e meio oficial de comunicação, deletou permanentemente a conta do bilionário.
Mesmo com o alcance restrito, Trump se manifestou na tarde de ontem para falar sobre a invasão ao Capitólio e informar que o FBI alertou sobre outros possíveis episódios de violência nos próximos dias.
Para o professor da USP, a aprovação do impeachment pode ter motivado esses recuos na postura combativa de Trump. “Ele deve estar sentindo que esse processo é um desastre para ele e para a carreira política”, analisa.
Apesar do processo de impeachment de Trump significar que a defesa da democracia nos EUA, o andamento da saída do republicano pode ser “um desafio enorme” para o começo do governo Biden, diz Loureiro.
Os EUA são o país mais afetado pela pandemia do novo coronavírus, e desde as eleições, Biden deixou claro que lutar contra a pandemia seria uma prioridade em sua gestão. Além disso, o começo de uma administração também é marcado pela formação dos gabinetes, nomeação e aprovação de ministros e organização da estrutura governamental. Com o processo de impeachment, tudo isso pode ficar atrasado.
“Biden esperava ter um Congresso 100% focado na aprovação de ministros e de recursos emergenciais para a pandemia”, diz o professor.
Ainda não se sabe como o Congresso vai funcionar, se vai dedicar sua atenção integralmente ao impeachment de Trump ou ao começo do mandato do democrata, mas é certo que “algum impacto vai ter na restrição da agenda de Biden”, diz Loureiro.