Saudades de Martinho Moreira Franco

JÁ BATE À PORTA UMA FUNDA SAUDADE DO MARTINHO MOREIRA FRANCO (O MMF OU MORENGUEIRA), AMIGO-IRMÃO POR MAIS DE CINQUENTA ANOS, HOJE

Evandro da Nóbrega,
escritor, jornalista, editor, membro do
IHGP (Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano), sócio-fundador do FCF-PB
(Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento
da Paraíba) e sócio efetivo da Confraria dos 100 Bibliófilos do Sertão Paraibano.

Estamos todos muito tristes — muuuuito tristonhos mesmo! — com o falecimento, logo cedo, neste sábado, 6 de fevereiro de 2021, de nosso bom amigo-irmão Martinho Moreira Franco, o Morengueira, jornalista, cronista, crítico cinematográfico, articulista de mancheias, sempre com um toque de bom humor em tudo quanto produzisse.

O sepultamento de seu corpo realizou-se às 16 horas desse mesmo dia do falecimento, no Cemitério do Senhor da Boa Sentença. O velório ocorrera a partir das 13h30m, na Central de Velórios São João Batista, ali ao lado do Restaurante Classic, um dos locais vez por outra visitados por nosso bom amigo, quando ainda mui ativamente supercomunicativo.

UMA AMIZADE DE DÉCADAS
<span;>Conhecemos o Martinho ainda em 1963 e, por uns tempos, com ele trabalhamos tanto na antiga Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado, como no jornal O NORTE. Ele sempre foi ligado, da mesma forma, ao jornal oficial da Paraíba, A UNIÃO, onde mantinha apreciada coluna sobre “faits divers”.

Ultimamente, como ele se afastara da coluna, para fins de tratamento médico, registrava-se grande número de leitores fiéis reclamando de sua ausência nas páginas do matutino que caminha para um merecido sesquicentenário.

BARRETIM, JBB & MMF
Para nós, desde meados da década de 1960, as referências em termos de crítica cinematográfica repousavam em três pilares de nossa melhor intelectualidade: Antônio Barreto Neto, o Barretinho; João Batista de Brito, o JBB; e Martinho Moreira Franco, o Moringueira (ou Morengueira) ou, simplesmente, MMF.

Não incluímos aqui o Wills Leal de caso pensado, porque ess’outro saudoso dínamo intelectual, autêntico vendaval da cinematografia, estava mais para cineasta, crítico social, historiador dos costumes, essas coisas — embora fosse mui competente na crítica de Cinema, do que deu provas no legado lítero-bibliográfico que nos deixou.

TORTURADO PELO ESTILO
Desde suas primeiras produções no mundo da crônica, MMF sempre foi dono de um estilo correto, expressivo, muito trabalhado. Ele era capaz de passar horas “penteando” um texto, buscando a palavra correta para determinada situação.

Mais ainda: como muita gente boa, achava Martinho Moreira Franco que só existe UMA maneira de dizer uma coisa — e era de vê-lo, em toda a sua alta estatura, debruçado sobre a máquina de escrever, na Redação do jornal, martelando o cérebro até que lhe chegasse esse modo único de dizer algo.

QUAL GONZAGA & NATHANAEL
Só acionava os dedos sobre o teclado — antes, o “keyboard” da “typewriter”, depois o “keyboard” do “notebook” — quando a frase luzia pronta, acabada, definitiva, em sua mente.

Nisto se assemelhava, e muito, a seus grandes amigos e colegas jornalistas, escritores e cronistas Nathanael Alves e Gonzaga Rodrigues.

OFICINA DE COMUNICAÇÃO
O estilo despojado de quaisquer quinquilharias sobrantes lhe advinha da continuada prática com a linguagem da Publicidade.

Na Oficina de Comunicação, fazia dupla com o dileto e hoje saudoso primo Mílton (Ferreira da) Nóbrega, irmão do economista Maílson Idem. Mílton e MMF se juntaram a outro publicitário, Alberto Arcela, e criaram essa Oficina de publicidade ainda em 2001.

MMF & MÍLTON NÓBREGA
Era MMF “bolando” as frases e o grande Milton as ilustrando com maestria… Cenas também inesquecíveis, especialmente porque essa dupla criativa sempre nos recebia com a “piada da semana”. Como aquela de humor negro que falava sobre um menino que, à mesa, na hora do jantar, falava para a gorda genitora:

Mãe, por que é que, em nossa família, as pessoas falecem assim, tão de repente, morrem de morte súbita, sem aviso prévio, sem que estejam nem doentes? Hen, mãe? Por que ocorre isto? Hen, mãe? Mãeeeee?!…

DE HUMBERTO DE ALMEIDA
Também o escritor e cronista Humberto de Almeida, o “1Berto”, que sumamente sempre apreciou o bom humor emeemeefiano, há algum tempo indagara, ecoando seu amigo Carlos Antônio Potiguara, o Poti: “Por onde andará Martinho Moreira Franco?!”

Imaginou que o veeeeelho MMF de guerra “deveria estar hibernando entre seus velhos e bons filmes e sua leitura de descobertas”. Como muitos, 1Berto também considera que o sempre franco Martinho Moreira Franco era (e ainda o é e continuará sendo), além de “dono de um estilo somente dele, limpo, bem-humorado”, igualmente “poético e não raras vezes brincalhão”.

O RETORNO DO CÂNCER
Há alguns anos, MMF teve problemas com um câncer nos rins, se muito não caímos em crasso erro. Foi para São Paulo, de onde voltou aparentemente curado de todo.

No entanto, a solerte doença, sem que ninguém de início desconfiasse, já atingira o estágio de metástase e, silenciosamente, as células malignas se lhe iam espalhando corpo afora, via corrente sanguínea.

Ultimamente, essa metástase se manifestara sob a forma de pequeno tumor no cérebro. Incomodado com alguns sintomas estranhos, que afetavam inclusive seu humor, MMF procurou os especialistas, alguns deles seus amigos e admiradores.

SINAL DE POSITIVO
Os médicos retiraram com êxito esse corpo estranho por intermédio de pequena incisão num crânio tão privilegiado pelo talento. Mas também constataram: era formado por tecido renal — e maligno.

Comemorando o relativo êxito da cirurgia, MMF nos enviou pelo WhatsApp uma foto dele mesmo, ainda deitado no leito do hospital, sorrindo e fazendo o sinal de positivo com o polegar.

MMF & A DRA. MALLANJA
Enrolada na cabeça do MMF, uma touca protetora cirúrgica e, nos braços, toda aquela catrevagem de fios, tubos e agulhas que nos atrelam aos leitos hospitalares.

Esta foto, mais para algo hospitaleira que para hospitalar, e é foto bem recente, MMF enviara, pelo WhatsApp, não só para o escriba que vos tecla, mas, igualmente, para nossa incomum amiga comum Maria Ângela Sitônio Wanderley, a Dra. Mallanja, prima legítima de outro imenso amigo do agora já saudoso Martinho, o escritor, acadêmico e cronicarticulista Otávio Sitônio Pinto, ambos da célebre família Pereira, de Princesa (Isabel).

PROBLEMAS ESTOMACAIS
<span;>Ante o comunicado dos médicos, feito há uns dois meses, à amorosa família de MMF somente restava aguardar, com sofrida paciência e resignação, o desfecho da enfermidade, que fatalmente viria. Nos últimos dias, paradoxalmente, nosso amigo MMF voltara a internar-se numa UTI do Hospital Memorial São Francisco, competentemente dirigido pelo médico Ítalo Kumamoto.

Mas essa última internação não se dera estritamente por causa do retorno do câncer, não — e sim por motivos ligados a insuportáveis desconfortos gástricos, quem sabe provocados pela medicação, ante o pesado tratamento obrigatório por que passava o bom do Martinho.

VICENTE CELESTINO & CIA.
Há alguns meses, o veeeeelho Druzz de guerra enviara à citada amiga Dra. Maria Ângela Sitônio Wanderley um pequeno áudio em que ele próprio, o Druzz, vale dizer, o degas aqui, tocava violão, acompanhando-se, porque simultaneamente tentava cantar uma valsa antiga.

A reclusão pandêmica periga chegar a isto: Você começa a (re)estudar violão, piano, essas coisas — e com pouco mais já está trauteando e acompanhando-se ao pinho. Para desespero dos familiares & da vizinhança…

A Dra. Mallanja, por seu turno, reencaminhou para nosso também incomum amigo comum MMF o dito cujo qual citado & indigitado áudio do novel “cantor” & “violonista” aqui. Foi o suficiente para MMF nos mandar uma cópia do mesmíssimo áudio, com a irônica observação:

Vou divulgar entre muitos amigos nossos, viu, Druzz? E vou chamá-lo de Evandro Calheiros, Druzz Celestino ou Nélson Evandro Gonçalves, está bem? He he he… 😉 😉 😉

POR MAIS DE 50 ANOS
Também em tom de brincadeira, mas temendo o ridículo de ser ouvido por muitos amigos como saudosista intérprete de valsas antigas (as “inesquecíveis valsas brasileiras” de que fala a capa de um vetusto disco de nossas coleções), respondemos ao MMF, também via WhatsApp: “Se Você mandar este áudio para mais alguém, me intrigo para sempre de Você!” E colocamos umas carinhas engraçadas, dessas que abundam nas mensagens eletrônicas por celular.

Martinho fingiu se irritar com a ameaça de “cortarmos o dedo”, de “nos intrigar”: “Mas não é possível, rapaz, que Você, por causa de uma besteira dessas, queira encerrar uma ammizzade que já dura mais de 50 anos, sem que nunca tenha havido a menor rusga!”…

A brincadeira não continuou — e ia continuar, com o envio de novas “canções” d’antanho interpretadas pelo improvisado “cantor” bissexto e rouco Druzz Calheiros Gonçalves Celestino, o de voz de taquara-rachada. Não continuou porque, com poucos dias mais, o MMF estava novamente internado, dessa feita para a retirada do pequeno tumor cerebral.

AMIGOS DE OUTRORA
Como num filme em sépia — caro MMF, que já não nos pode ouvir — vêm-nos à memória cenas já bem antigas e quase esquecidas das reuniões de amigos que mantínhamos nos anos de 1960, inicialmente na rua Rodrigues de Aquino (Rua da Palmeira ou Rua da Rádio Tabajara, como se dizia) e, depois, na Churrascaria Bambu, no Cassino da Lagoa, no Bar do Luzeirinho, no Elite Bar e noutras paragens etílicas.

Entre esses amigos, o MMF, o Dr. Márcio Roberto Soares Ferreira; o médico, ensaísta e poeta Emmanuel Ponce de León Júnior; o depois agrônomo Normando Melquíades de Araújo, o Binha; o jornalista e discreto ativista Teócrito Leal, irmão do Wills e nosso colega na Redação de O NORTE; o juvenilíssimo, superbem-humorado e inesquecível pediatra Djalma Herculano, tão prematuramente falecido num desastre automobilístico em Campina Grande, deixando infinda saudade em todos que tiveram a felicidade de conhecê-lo…

Nossa diletíssima amiga Nirelda Moura, outra superammizzadde que nos vem dos anos de 1960, ainda ontem nos falava sobre o choque que todos sofremos, à época, com o brutal desaparecimento do Djalma, que, além de amigo, era médico dos filhos dela.

“OMBUDSMAN” & MENGO
Antes de decidir se firmar “apenas” como cronista/articulista, o critico cinematográfico, jornalista e publicitário MMF exerceu cargos como o de secretário de Comunicação do Governo do Estado e também de “ombudsman” de jornal, a exemplo de outros bons amigos seus, como o jornalista, escritor e analista político Rubens Nóbrega e o cineasta, jornalista, escritor e também crítico de Cinema Wills Leal.

Outra coisa a anotar sobre o Martinho que acabamos de perder: como os que nascem no Rio de Janeiro já vêm a este Vale de Lágrimas com o tal “espírito carioca”, MMF nasceu em João Pessoa e sempre manteve seu “espírito pessoense”, contrastando com os que, como nós, provínhamos do interior do Estado. Mas isto não o impedia de estreitar laços de amizade com paraibanos de todos os quadrantes e, em verdade, com brasileiros de tudo quanto é extração.

E, se muito não laboramos em erro, o fato é que MMF, eterno torcedor do Flamengo, apelidou o próprio filho Martinho Filho como… Mengo!

“ENCYCLOPAEDIA PARAHYBENSIS”
Semana passada, enviamos ao amigo-irmão Martinho Moreira Franco breve comunicação, mais ou menos nos seguintes termos:

Caro MMF, como talvez Você nem saiba ainda, lancei no dia 15 de janeiro próximo passado o conceito de “Encyclopaedia Parahybensis”, pálida imitação quarto-mundista da célebre “Encyclopaedia Britannica”. Trate, pois, de me enviar sua “foto preferida” (todo mundo tem uma!) e umas duas laudas com o resumo de sua biografia. É para eu redigir o texto final de seu verbete respectivo. Você tem duas semanas para me mandar isto, please!

Fomos verificar hoje os registros de nosso WhatsApp — e vimos com pesar que o MMF nem mesmo recebera essa mensagem: já se internara, pela última vez, na UTI de onde não sairia com vida. Sniff, sniff…

Mas o jornalista e cronista Gil Sabino soube resumir, num parágrafo de seu artigo saído hoje no portal WSCOM, de nosso colega e amigo Walter Santos, quem foi nosso amigo agora desaparecido:

Martinho era pessoa sábia, simpática, de boa prosa e também considerado um dos melhores textos do jornalismo; com ele sempre tivemos o prazer de ler e aprender; mantinha ainda uma coluna no jornal A UNIÃO, onde publicava crônicas maravilhosas, com seu jeito simples, atrativo e bacana de contar as coisas.

E concluímos esta cantiga d’ammiggo, na mesma língua em que é grafado o título de ‘Encyclopaedia Parahybensis”, o veeeelho latinório de guerra: “Resquiescat in pace, Martine!”…

Evandro da Nóbrega

Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, editor

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