Senado absolve Trump de impeachment e libera caminho para nova candidatura do republicano
Senado americano absolveu neste sábado, 13, o ex-presidente Donald Trump no processo de impeachment no qual o republicano era acusado de incitação à insurreição e à violência de 6 de janeiro, quando uma multidão invadiu o Capitólio com intuito de barrar a certificação da eleição de Joe Biden. A decisão evita que Trump seja impedido de concorrer novamente a eleições presidenciais, algo que poderia ser estabelecido no caso de condenação.
Trump foi inocentado por 57 votos a 43, com a proteção da maioria dos senadores de seu partido. Eram necessários 67 votos dos 100 senadores da Casa para condená-lo e, então, decidir sobre a desqualificação do republicano para concorrer a cargos federais.
Donald Trump é o terceiro presidente americano a ser absolvido pelo Senado em um processo de impeachment aprovado pela Câmara, mas é o único a passar por essa situação duas vezes. Ele é também o único presidente a ter enfrentado o julgamento do Senado depois de deixar a Casa Branca. Esta foi a primeira vez desde 1868 que a maioria do Senado votou para condenar um presidente no processo de impeachment — embora não tenha havido maioria qualificada suficiente para a condenação.
Há um ano, em fevereiro de 2020, o Senado também absolveu Trump de um impeachment aprovado pela Câmara. Na época, os republicanos eram maioria entre os senadores e apenas um parlamentar do partido, o senador Mitt Romney, votou contra o então presidente.
Como no ano passado, a absolvição deste sábado era esperada. A Câmara aprovou o impeachment contra Trump em votação rápida, uma semana após a invasão do Capitólio, no dia 13 de janeiro. No ataque, ao menos cinco pessoas morreram e outras ficaram feridas. A multidão buscava pelo então vice-presidente, Mike Pence, responsável por conduzir a sessão que formalizaria a eleição de Joe Biden. Os invasores e apoiadores de Trump chamavam Pence de traidor.
Trump questionou por meses a legitimidade do resultado da eleição presidencial da qual Biden saiu vitorioso, em novembro. No dia do ataque ao Capitólio, Trump fez um discurso aos seus apoiadores em Washington, na qual pediu que eles lutassem para defender o “orgulho do país”.
O julgamento de Trump no Senado durou quatro dias. Nos dois primeiros dias, a acusação — formada por deputados democratas — argumentou que a insistência de Trump na narrativa de que houve fraude eleitoral e a retórica de incitação à violência durante os anos de presidência do republicano foram determinantes para a invasão do Congresso americano. Uma pesquisa feita pelo site Vox em parceria com o centro Data for Progress entre 8 e 11 de janeiro apontou que 72% dos eleitores republicanos questionam os resultados da eleição presidencial e 74% dizem que as alegações de fraude no pleito contribuem para essa avaliação.
Deputados democratas fizeram apresentação com apelo emocional e exibiram vídeos que mesclaram trechos do discurso de Trump no dia da invasão, cenas do ataque ao Capitólio e imagens inéditas do circuito de segurança do Congresso para criar a linha do tempo dos acontecimentos. Depoimentos de invasores que disseram ter seguido ordens do então presidente ao invadir o Capitólio também foram usados pela acusação, que argumentou que a inércia do ex-presidente nos momentos posteriores à invasão e a ausência de demonstrações de remorso são indicativos de que Trump é uma ameaça ao país e pode incitar novamente episódios como de 6 de janeiro.
Já a defesa de Trump, argumentou que o impeachment de um presidente fora do cargo é inconstitucional e que o discurso do presidente no dia do ataque o Capitólio, no qual ele pediu que seus apoiadores “lutassem como o inferno” por ele, é parte de um discurso político tradicional, protegido pelo direito constitucional à livre expressão. Os advogados argumentaram que Trump não pode ser responsabilizado pelo ataque ao Capitólio e que ele é vítima de uma caça às bruxas.
Neste sábado, em um movimento inesperado, os responsáveis pela acusação pediram a convocação de testemunhas no processo. A medida atrasaria a conclusão do julgamento, algo que nenhum dos partidos desejava. Os deputados democratas voltaram atrás no início da tarde e concordaram em apenas juntar ao processo a declaração por escrito de uma deputada que, segundo eles, corrobora as evidências de que Trump apoiava a ação da turba que atacou o Capitólio.
Republicanos buscavam virar a página de uma marca negativa para o partido. Já os democratas querem liberar a agenda do Congresso para negociar o pacote de socorro econômico proposto pelo governo Joe Biden para aliviar as consequências da pandemia de coronavírus.
Republicanos no Senado chegaram a ensaiar um rompimento com Trump logo após o episódio. No dia da invasão, o então líder do partido republicano no Senado, Mitch McConnell, disse que Trump provocou a turba que tentou barrar a sessão do Congresso que confirmou a eleição de Biden. “A multidão foi alimentada com mentiras”, disse McConnell na ocasião.
A influência de Trump sobre a base eleitoral dos republicanos, no entanto, fez com que a maioria dos senadores se mantivessem do lado do ex-presidente no processo de impeachment.
McConnell e as lideranças do partido decidiram julgar o caso no Senado só após a posse de Joe Biden, que aconteceu no dia 20. Durante o mês que separou a votação na Câmara da realizada no Senado, os senadores republicanos baixaram o tom contra Trump, já fora do cargo e silencioso, após ser banido por plataformas de redes sociais.
A base eleitoral do partido republicano tem se deslocado para a direita e dado respaldo ao discurso incendiário adotado por Trump com frequência em seu governo. O partido tem dificuldade de expurgar até mesmo figuras incômodas, como uma deputada que defende abertamente teorias da conspiração, e se aproximou de grupos de extrema direita nacionalista. Durante o governo Trump, grupos de republicanos moderados, como o Lincoln Project, defenderam uma oposição ao nome do então presidente e se declararam a favor da eleição do democrata Joe Biden.
Mas analistas apontam que a base do partido republicano está mais próxima do “trumpismo” do que de um conservadorismo moderado defendido pelos republicanos anti-Trump. A decisão do Senado é um indicativo que parlamentares republicanos temem perder voto e apoio da base eleitoral que os elegeu. Em artigo publicado no site FiveThirtyEight, o cientista político Lee Drutman, autor do livro “Breaking the Two-Party Doom Loop: The Case for Multiparty Democracy in America”, afirma que a transformação na base do partido republicano tem feito os moderados “desistirem”. “E mais republicanos conservadores, combativos, evangélicos e agora mais republicanos ‘trumpistas’ têm dominado”, escreveu.
Com o resultado da votação previsto antes mesmo de o julgamento começar no Senado, democratas buscaram fazer das sessões desta semana um registro histórico contra Donald Trump, que pode tentar voltar à presidência do país nas eleições de 2024.
Com informações do Estadão