LEMBRANÇAS, SÓ LEMBRANÇAS – 2
“Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida?
Sois, apenas, como neblina que aprece por um instante e logo se dissipa”. (Tiago, 4, 14).
Essa verdade nos persegue. Somos sopro… pensamento. “Somos todos nuvem passageira”, como proclamado na canção do Padre Zezinho.
Não importa dinheiro, nem poder, todos passamos, porém importa o legado do que fizemos durante a caminhada breve ou longa.
Mais felizes do que aqueles que apenas acumulam riquezas materiais, são os que carregam, em suas mãos, o bem que podem proporcionar ao semelhante, durante a jornada terrestre.

Nosso Amor era desses, que estava sempre pronto a ajudar. Pensava mais nos outros do que em si mesmo. Para sua família, nada faltava, amor havia em abundância. Apenas sua ausência nos maltratava. Quando demorava a regressar das viagens, nosso neto já se queixava, apontando para o calendário: – 20 dias e papai Zé não chega.
Embora apreciasse muito ficar em sua casa, a vida de compromissos e obrigações fazia, por vezes, com que o avião se tornasse a sua estadia mais frequente.
Trabalhava por amar o trabalho. Nunca tirou férias. Nos afazeres particulares, empenhava-se para manter o patrimônio herdado dos pais. Na vida pública, enfrentava as adversidades para se manter firme na política… não por vaidade pessoal, mas por acreditar ser aquele um instrumento propulsor de bem estar à população.
Decano do Senado, com a postura de um Senador Romano, sua sabedoria era cantada e decantada entre os pares no Congresso Nacional. Lembro-me de muitas das suas responsáveis e cuidadosas reflexões sobre importantes projetos, de cujas votações participou, como: a do Novo Marco Legal do Saneamento Básico (matéria que disse ser de grande impacto na qualidade de vida do povo, especialmente dos mais necessitados do norte e do nordeste); da criação de auxílio financeiro a asilos durante a pandemia; do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus, que previu vital aporte financeiro para Estados e Municípios em meio à crise econômica trazida pelo COVID-19; da permanência do FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (que ele classificou como uma medida voltada para o futuro do país); apresentação de projetos em defesa das mulheres vítimas de violência doméstica, e de proteção e valorização dos autistas e dos portadores de TDAH, entre outras tantas deliberações relativas a temas sobre os quais ele se debruçava, por dedicação aos brasileiros.
Fazendo política viveu, em meio à política morreu, ao contrair o COVID, no segundo turno das eleições municipais de João Pessoa.
Revendo a tua foto, postada por Magda Maranhão, na qual apareces reflexivo e pensativo como sempre, te pergunto: valeu a pena fazer campanha política até o teu último dia saudável? Pra nós que ficamos, esse anjo cruel da morte foi impiedoso demais. Nem os renomados médicos paulistas Ludhmila Hajjar e Marcelo Amato encontraram armas para combatê-lo. Ele veio com força humanamente indestrutível, através de um vírus traiçoeiro e amedrontador. Todos achávamos que ele não te venceria e, ainda hoje, teus filhos se vêm confusos, com a sensação de que voltarás tão forte e capaz, quanto saístes para fazer exame no hospital.
Estás a me contemplar, Meu fiel companheiro? Tao lindo, no auge dos oitenta anos! Pele nutrida e corada, sem rugas e sem manchas. E a sobrancelha tão marcante, acima de dois faróis a guiarem nossas vidas.
Tanta gente te ama! Tantos fatos me têm relatado sobre ti.
Fostes um Zé em muitos Zés. Mas, sobretudo, o Zé do povo, preocupado em melhorar a vida dos cidadãos.
De pequenos a grandes relatos, tudo me enche de orgulho de ti. E estimulada estou, com teus exemplos, para seguir adiante.
És nevoeiro? Neblina que passa?
És mais que isso. És luz, deixada como mais longevo político, que, seja nas atividades do Senado, seja no trato cotidiano com o próximo, portou-se como um servo até o teu destino final.
 
					 
				
				 
					