Há os que amam, e os que se deixam amar
Quem ama e é amado se sente bem com a felicidade do outro.
Com nossos pais, eu e meus irmãos aprendemos a ser unidos, a dividir alegrias e tristezas, necessidades e bonanças.
Os votos matrimoniais o fazemos em família. Os batizados, idem. As celebrações e festejos natalícios, da mesma forma. E, igualmente, juntos estamos em momentos de sofrimento, como agora, durante essa jornada de dor indescritível que estou a viver, com assistência total de filhos, irmãos, sobrinhos, cunhados e até sobrinhas netas. É algo espiritual muito forte esse elo familiar.Com os mecanismos tecnológicos da atualidade, temos outras formas de ficar juntos no dia a dia, independentemente do contato presencial, sobretudo através do Whatsapp, com a interação no grupo da família. É bem verdade que, às vezes, despropositadamente, magoamos, discordamos, discutimos. Algum membro sai do grupo, mas logo surgem os bombeiros e, em poucos dias, estamos, novamente, vivenciando o amor familiar. E, todos, dizemos uns aos outros: se precisar de algo me diga! Conta comigo!
Por isso, Zé Maranhão se sentia tão bem junto aos Bezerra Cavalcanti.
Atento às evoluções da modernidade, ele também aderira às novas ferramentas das comunicações virtuais. Apesar disso, preferia mesmo interagir pessoalmente. Essa era a sua marca: um homem que sabia escutar, calar quando preciso, mas, no momento certo, aconselhar, dizer exatamente o que se precisava ouvir… e nesses contatos, costumava exercitar algo também característico da sua personalidade: o incentivo ao perdão.
O Ministro Herman Benjamin telefonou nesse domingo, dia 20, e disse que, além de outras qualidades, admirava Maranhão pela sua capacidade de perdoar. E vejam, o Ministro é de Catolé do Rocha, onde corre, de boca em boca, o velho brocardo da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Averso a qualquer forma de violência, Nosso amor era do lema oposto, de aceitar a ofensa silenciosamente (Mateus 28, 21-22).
Quando nos desentendíamos, embora não usasse a palavra desculpa, fazia-me um carinho tão doce, que me derretia e terminava, eu, pedindo perdão pelos nossos desacertos.
Assim, ele fazia com todos. Bastava seu olhar profundo sob os óculos ou seu sorriso verdadeiro, adornado pelo bigode, para esquecermos qualquer rusga. Porque amor é compreensão e perdão.
Eu insistia: – meu amor, você é muito puro! Resiliente!
Ele era tudo isso. Porque, nas suas simplicidade e sabedoria, fazia com que desentendimentos e desagrados sucumbissem ao poder do amor.
Como bem mencionou Francisco Azevedo, em “O Arroz de Palma”, uma família é formada por membros das mais diversas personalidades. Há os que amam, e se deixam amar, com maior facilidade; e também aqueles que impõem maiores obstáculos à fluência do amor. Zé Maranhão sempre foi ponte, a unir esses diferentes temperamentos da existência humana. E, por isso, tenho certeza de que, agora na morada celeste, continua a vibrar de alegria todas as vezes em que prevalece o perdão e reina o amor entre os homens.
Fátima Maranhão.